segunda-feira, 30 de maio de 2011

Procura-se um Guru

Lembro-me que no inicio do meu aprendizado no Yoga, uma questão me incomodava muito, o fato de, no Ocidente a grande maioria dos estudantes de Yoga não ter acesso a um Guru, pois sempre que buscava estudo sério sobre o tema, havia alguma referência sobre a orientação de um Guru como instrutor, sobre o perigo de se fazer certas práticas sem orientação do mesmo; como é o caso dos  Pranayamas. Então pensava, se não puder ir à India, ou ter a sorte de ser encontrada e reconhecida por um Guru, minha prática reduzir-se-á aos  Asanas (posturas físicas).

Foi quando tivemos uma aula com Sri Krishna, yogue, médico neurologista indiano; ele ministrava uma aula de meditação; pensei comigo, é a hora de tirar minha dúvida....e perguntei: Como podemos aprender Yoga no Ocidente, se à maioria dos estudantes falta a orientação e condução de um Guru para nos guiar no caminho? O que podemos esperar desta prática?

E ele com simplicidade e humildade me respondeu, mas vocês têm muitos Gurus. E eu pensei cá comigo...onde???? E ele; penso, observando as interrogações em meu rosto explicou: (Não lembro suas palavras exatas, então vou sintetizar o ensinamento que me foi transmitido)

Olhe a sua volta, o que vê? O Yoga não é somente Asana, comece pelos Yamas(disciplina ética) e Nyamas(regras de conduta que se aplicam à disciplina individual)  estes aprendizados você colhe e desenvolve todos os dias interagindo, observando, refletindo, meditando. Ouça os pássaros, os barulhos, o silêncio, a respiração, observe as estações,  o que as pessoas dizem ou fazem, as batidas do seu coração, todos são seus Mestres.

E percebendo o quão era pequena minha compreensão do Yoga, fiquei quieta, e fiz deste ensinamento minha prática diária, e todos os dias aprendo e alargo minha compreensão da vida, buscando cada vez mais coerência no meu pensar, falar e agir, buscando a atitude humilde do não julgar, observando o fora e o dentro de mim.

E a vida tem me trazido desde então inúmeros Mestres e aprendizados, esta semana mesmo, conversando com minhas alunas, elas fizeram qualquer comentário a respeito do meu cabelo, e eu brincando respondi: Só mesmo aquela bicha louca pra fazer uma descendente de Indio pintar o cabelo de loiro.... e uma delas comentou, eles (os bichas) são muito bons com os cabelos. Na hora não percebi o absurdo do que havia falado, disse que gostava do meu cabelereiro porque ele é alegre, bem humorado, não gosta de fofocas, usando o termo “bicha louca” para expansivo, alegre, despojado....sem conotação com suas escolhas pessoais, e como se uma India também não pudesse desejar seus cabelos loiros!!! Tal qual uma criança repete o que ouve na TV, sem perceber fiz um comentário lamentável, que traduz preconceito, quando na verdade respeito as escolhas individuais de qualquer natureza, não sou uma pessoa preconceituosa, senti vergonha por me expressar de forma tão pouco carinhosa ou generosa,  estamos desatentos a certas situações que ocorrem ao nosso redor, entramos na energia que paira no ar, a linguagem ou pensamento corrente sem ao menos refletir o que faz sentido para nós. Assim como vejo pessoas vestindo couraças de felicidade, quando não o são, usando máscaras de educados, de espiritualizados, de cultos, como se fosse vergonhoso sentir dor, sofrer por algo, mostrar limitações, enganam a si mesmos, evitando o aprendizado maior através do viver.  Cada qual, a sua maneira, vive,  todos,  buscando a felicidade e paz interna.

A prática do Yoga nos conduz com mãos carinhosas e pacientes ao aprendizado longo do lapidar-se diariamente, ser simplesmente o que se é, sem rótulos ou etiquetas de Marca. Somos humanos, como crianças aprendendo a ser gente grande, falhamos, erramos, nos enganamos, mentimos, fazemos outros felizes ou não..., enfim é a vida, uns um pouco mais conscientes outros menos, e vamos indo.

Há um trecho em “A Luz da Yoga” de Iyengar muito bonito que fala sobre isso:
...O Yogue compreende que sua vida e todas as suas atividades são parte da ação divina sobre a natureza, manifestando-se e operando na forma humana. Na batida de seu pulso e no ritmo de sua respiração ele reconhece o fluxo das estações e o pulsar da vida universal. Seu corpo é um templo que abriga a Centelha Divina. Ele sente que neglicenciar ou negar as necessidades do corpo e pensar nele como algo não Divino é negligenciar e negar a vida universal da qual ele faz parte. As necessidades do corpo são as mesmas do espírito divino que vive através do corpo. O iogue não olha para o céu em busca de Deus, pois sabe que Ele está dentro de si mesmo.
....Para ele (o iogue), o corpo não é um obstáculo para sua libertação espiritual, nem a causa de sua queda, mas um instrumento de aperfeiçoamento.

Quando entendemos e conseguimos ver o  Divino em tudo, somos inundados de amorosidade e incapazes de ferir qualquer Ser, por pensamentos, palavras ou atos.

Na visão do yoga a vida é extremamente simples quando assumimos o que pensamos, falamos e fazemos (por pior que seja), mostramos apenas o que realmente somos...e o que não for adequado vamos aprendendo a lapidar e  educar de forma a nos tornamos mais amorosos, generosos e melhores.


                                                                          

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