quarta-feira, 20 de julho de 2011

Impermanência

Demissões, desastres naturais, rompimentos, doenças e quaisquer situações novas, geralmente nos causam apreensão e ansiedade, mas são excelentes no que tange a refletirmos nosso nível de apego; a pessoas, coisas, situações, hábitos, etc...
O yoga e outras filosofias nos alertam para a compreensão desta verdade, pois tudo na vida é transitório; o corpo muda, os pensamentos mudam constantemente, a natureza  se altera várias vezes em um único dia, e a grande maioria vive  com a sensação de final feliz, de que  é para sempre, então quando nossa rotina é abalada, somos pegos de surpresa e nos sentimos perdidos e despreparados para as situações novas.
O Ayurveda nos educa para a observação constante do dançar dos cinco elementos em nosso corpo e no meio em que estamos inseridos, sentindo sua alteração a cada alimento ingerido, a cada flutuação do pensamento, as instabilidades emocionais, as mudanças de estação e temperatura durante o dia; o tempo todo estamos sendo afetados e estamos afetando o meio em que vivemos.
A impermanência é mais comum do que a estabilidade, mas temos a falsa impressão de que algumas coisas devem se manter inalteradas e nos apegamos a elas,  sofrendo quando a mudança chega , ou nos mantendo acomodados em situações que já não trazem aprendizados novos, alegria de viver, entusiasmo, paixão, e a vida segue  apática.
O número de pessoas com depressão, embora os novos tempos tragam inúmeras facilidades; e talvez até por isso mesmo; atinge desde crianças a sexagenários em número crescente, muitos não conseguem  encarar a dor; como meu pai diz; olhar  o touro e agarrá-lo pelos chifres, ou arregassar as mangas e por a mão na massa, bater o pó da roupa levantar e recomeçar de cabeça erguida.... e tantas outras expressões que ouvi em minha infância de familiares que viveram tempos bem mais difíceis... observo que na sua maioria,  as pessoas buscam pílulas mágicas, soluções rápidas e prontas, sem o mínimo esforço.
Gosto de observar coisas e pessoas, e não raro presencio interlocutores onde um entusiasmado conta algum episódio enquanto o outro está olhando o recado no celular, mostra impaciência contando os minutos para que a história acabe, me parece que a velocidade do twitter é  transportada para as relações “in natura” , mas não para as mudanças consideradas em primeiro momento como desafios ou situações ruins.
A meu ver, falta um ingrediente nas relações; ou melhor alguns;  compaixão, aceitação, contentamento, verdadeiro conhecimento de quem somos, ocupa-se todo o tempo com barulho e atividade para não ouvir o que bate lá dentro, para evitar deparar-se com esse ser estranho que mora dentro de nós.
Quando passamos por uma situação difícil e simplesmente aceitamos, de forma lúcida nos abrindo para aprender e encarar o problema, um sentimento de paz e compreensão ocupa o lugar da apreensão e incerteza, transcendendo nossa compreensão imediata e racional, expandindo nossa consciência para percebermos a real dimensão da dificuldade,  e as vezes descobrir  que o problema não era o outro e sim nós. Espernear não vai solucionar o problema mais rápido.
Aqui em casa costumamos brincar quando um de nós passa por mudanças, vamos dizer assim; não desejadas: Perguntamos, Tá com raiva? Se pendura no lustre. É uma forma de chamar para a consciência o ridículo do comportamento impulsivo, aí respiramos fundo, damos uma gargalhada e tudo fica em paz novamente.


                                              Site desta imagem: bloggdoteosofista.blogspot.com