quarta-feira, 6 de abril de 2011

Geração Miojo



Durante aulas de yoga, observava a reação dos alunos durante a  permanência nos  asanas (posturas físicas) e suas reclamações; isto porque conseguem ficar nas posturas mais fáceis entre 30 a 40 segundos, no máximo 1 minuto e lembrei de um seminário com o filósofo Mario Sérgio Cortella, onde ele cita nossa atual geração miojo, onde tudo tem que ser prático, rápido: amor miojo, namoro miojo, sexo miojo, estudo miojo, trabalho miojo,  parece que tudo dura 3minutos, no caso de asanas, ainda se durassem esse tempo, ótimo, mas nem isso!

Pulam-se etapas, queremos  tudo pronto, como ele mesmo diz estamos distraídos, todas as coisas para acontecer dependem de um processo de construção, dá trabalho e as vezes demora.

Costumo dizer aos meus alunos, não tenham pressa, temos a eternidade para adquirir a perfeição na pratica do yoga e ayurveda, uma prática atenta, requer paciência, foco, observação externa e interna, desenvolver uma respiração profunda e lenta, humildade para aceitar nossos limites, mas busca-se o pronto, queremos tudo para ontem. E se demora, já deixamos de lado, trocamos de postura, trocamos de parceiro, trocamos de casa, trocamos de trabalho, não há a construção paciente do passo a passo, do aprendizado pela convivência, pela observação, forma pela qual foram edificados os asanas; através da observação do movimento de animais, da natureza, a percepção que um movimento desperta  na respiração e no corpo....

Mal falo Trikonasa, e a criatura já está com a postura montada, uns podem dizer fabuloso....não, não é fabuloso, pulou-se a etapa construção do ásana, sem as devidas observações das ações no corpo que fazem a construção deste asana, é como falar de forma compulsiva sem prestar atenção na construção do pensamento ou responsabilidade do que se fala...

E posso transpor esta visão para a natureza, cada estação demora 4 meses, para depois reiniciar todo o processo novamente, ano após ano. As interferências do homem na natureza; que quer tudo pronto; e rápido nos tem mostrado os resultados de sua pressa e ansiedade: vemos, por exemplo, em SP  ocorrer mais de uma estação em um único dia, será que no futuro teremos também estações Miojo!
Numa busca ansiosa pela praticidade assisti ao longo dos meus 50 anos: na minha infância, ir a feira e supermercados com sacolas e carrinhos de feira, buscar leite e refrigerante em garrafinhas de vidro retornáveis, colher os alimentos e ervas básicas do dia a dia na horta caseira; tudo orgânico..., depois vieram os saquinhos de papel, os saquinhos de plástico, caixas de papelão, embalagens e mais embalagens, na tentativa de ser prático, hoje estamos retornando a hábitos de 50 anos atrás para recuperar a saúde e não morrermos afogados em lixo....

Tanto o Yoga como o ayurveda, pertence a uma qualidade de prática que prima pela observação paciente, e se observarem a estação atual, o Outono, ele vai chegando devagarzinho, ocupando seu espaço, inicialmente o arzinho frio soprando uma folha aqui outra acolá, daqui a pouco,  tapetes de folhas vão se formando nas alamedas e finalmente se instala.

Nesse meio tempo nosso corpo está mudando devagarzinho, de mansinho, mas não há tempo de reparar, mais parecemos o coelho de Alice no País das Maravilhas, estamos sempre atrasados, olhando no relógio; que deve ser bem grande; para não se perder tempo em focar a vista para enxergar. E continuamos mantendo os hábitos de todos os dias, o que tira o suco gelado da geladeira e desliza goela abaixo, o faz com a mesma desatenção de sempre; é hábito... e o corpo sente.

E o corpo que se prepara para o recolhimento, para a interiorização, para o aconchego, para o adormecimento, é bruscamente despertado, como se acordasse sob o jato de um balde de  água fria na face. É claro que cada um sente de forma diferente as estações, mas há que primeiro se perceber estas variações.
E para aqueles que já conseguem perceber seu corpo apontando  outros comandos, principalmente se já conhece o seu dosha, se ele for Vata ou Kapha, vai começar a perceber a necessidade de alimentos mais cozidos, temperos um pouco mais picantes, a pele (no caso dos Vatas) ir ressecando, a necessidade de sair com uma blusinha  de manga comprida na bolsa para os fins de tarde e noite, uma meia para aquecer os pés.

No ayurveda algumas práticas simples podem ir ajustando o corpo para as mudanças: tomar água morna (com mel e limão para os Kaphas e Pittas e com uma pitada de sal e limão para os Vatas) pela manhã em jejum e final da tarde (apenas água morna), massagens com óleo aquecido ( cada dosha tem o óleo adequado, mas no geral pode-se utilizar o óleo de gergelim), chás com gengibre ou canela.

Vou repassar uma receitinha que um amigo ayurveda  utiliza durante o outono e inverno para se manter aquecido e com um bom sistema imunológico:

Ingredientes:
200gms de gengibre fresco,
2 xícaras de água,
2 xícaras de açúcar mascavo
Dois pedaços de canela em pau,
Modo de preparo:  ralar o gengibre e reservar.
Derreta em uma panela inox, o açúcar acrescente o gengibre, a água e a canela, deixe ferver em fogo baixo por 10 minutos.
Deixe esfriar, em  seguida passar tudo em uma peneira e colocar em geladeira , aquecer um  dedo de copo e tomar bem devagar pela manhã e a noite.

Bom Outono à todos